segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O perfeito cada vez mais falso... contradições cotidianas.

Hoje parecia tudo diferente.

Comecei a não ouvir nada, a ponto de ouvir o som das asas dos pássaros batendo, rápido. Enquanto eles passavam alegremente diante dos meus olhos.

A quantidade de carros estava maior, e eram tantos. Mas não conseguia ouvir som de nenhum deles. Ou sentir o  vento rápido quando eles passavam por mim, quase colidindo com meu corpo que quase não conseguia dominar.

Eu dizia bom dia, até pra aqueles rostos desconhecidos, e mesmo que eles sumissem logo depois sem nenhuma explicação, eu continuei assim. Sentia os músculos da minha face em movimentos preguiçosos.
 Mas onde estava o som, eu não sabia.
 Pra onde havia ido minha voz? Meu timbre? Minha nota?
 Será que ele estava dormindo? Ou será que eu estava dormindo?
Mas logo percebi que sonho não era.
 Era tudo nítido e real, sem a névoa costumeira dos sonhos, e apesar de ser tão cedo. Aquele cedo branco querendo virar azul e um frio momentâneo que faz encolher os ombros.

Hoje eu vi as pessoas jogando conversa fora. E algumas outras, em silêncio profundo, com os sentimentos mudos gritando dentro dos olhos.
E quase pude ler uma linha de palavras desconexas escrita no céu.

Hoje meus pés caminhavam macios e o chão parecia mais firme. Primeiro pensei que pudesse ser o par de tênis branco, calçado as pressas, mas logo percebi que isso nenhuma diferença fazia.
Logo me dei conta que era meu joelhos que estavam mais corajosos.

Hoje nunca me senti tanto como parte da realidade, no entanto, em cada árvore que olhava, eu me sentia dentro dela..
Aí pegando um ponto de sanidade, vi que eu, em minha loucura, caminhava com os pés no chão e a cabeça nas nuvens. Sem me importar com a grande possibilidade de estar louca, soltei um sorriso tímido.

Hoje o trabalho foi produtivo. Mas no final do expediente me espantei ao não conseguir lembrar de nada. Nada que havia acontecido em minha sala, nada que havia sido digitado no meu computador.
Não conseguia lembrar o lugar das canetas, a posição dos papéis, o estado das letras do teclado. E nem as conversas que volta e meia começavam ao meu redor.
Com esforço, tentava puxar pela memória e já entrando em desespero, consegui ver alguns flashes. Mas eram todos de dias anteriores, nada recente.

Hoje eu estava tão presente e tão absurdamente distante.

Hoje nada me falta por agora. E a certeza de que ainda não é a hora de ser feliz. Feliz de um jeito específico criado na minha cabeça e que me convence.
Hoje me dei conta de que um sonho pode ser tão grande, que todas as pedras se fazem pequenas.
Descobri que sem querer, é quando faço poema.
Que as palavras são perfeitas em minha mente
e no papel as vezes não.
Que minha loucura é passageira, sóbria e sem refrão.
Que me tornei tão grande e fora do tom
naquela manhã em que ouvia quase nenhum som.

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